domingo, 25 de maio de 2014



Raphaela Ramos


Sinusite e rinite são doenças que atingem muitas pessoas atualmente. De difícil tratamento por meio da medicina tradicional, as patologias possuem causas psicológicas e alérgicas, como explica Sanjeev Krishnan. Segundo a ciência yogī, a cura desses problemas baseia-se na reorganização do corpo e da mente. Para conquistar-se o equilíbrio entre os caminhos de energia (nāḍīs) e a eliminação dos bloqueios mentais, Krishnan apresenta ferramentas de alto valor, como: meditação, yoga-nidrā, sūrya-namaskāra, āsana, prāṇāyāma e jala-neti, além de dieta e jejum. A partir de uma experiência pessoal, este artigo pretende analisar o impacto de tais práticas na rotina de um indivíduo alérgico.


CONSIDERÁVEL número de pessoas no mundo já experienciou doenças respiratórias como a sinusite e a rinite. A primeira pode ser definida como um estado de inflamação da membrana secretora de muco que reveste os seios da face. Dores de cabeça e atrás dos olhos, sensação de pressão nas bochechas e catarro drenado para a garganta são alguns dos sintomas ocasionados pela sinusite.1

Segundo Sanjeev Krishnan, em seu artigo Sinusite e rinite, tal enfermidade pode tornar-se crônica caso hábitos alimentares equivocados sejam mantidos de forma contínua e temperaturas baixas permaneçam negligenciadas. O frio, aliás, é um dos principais impulsionadores da inflamação – que também traz inchaço e sensibilidade nas maçãs do rosto e na testa. A sinusite crônica acaba por atuar como uma fonte constante de outras doenças respiratórias.2

A rinite é a inflamação aguda da mucosa do nariz. Nela, uma reação violenta tem início quando o indivíduo sensível entra em contato com alérgenos como pólen e poeira de casa ou outros ingeridos por meio da dieta. Ela afeta nariz, olhos e seios da face, causando espirro, coceira, aumento da secreção e obstrução nasal.3

A medicina tradicional enfrenta dificuldades para curar tais problemas das regiões respiratórias. Em geral, conforme observa Krishnan, o tratamento é sintomático e não oferece perspectivas de eliminação das causas. Usualmente, são indicados analgésicos para alívio da dor, anti-histamínicos para supressão da reação alérgica e antibióticos para prevenir infecção bacteriana secundária (KRISHNAN, p. 75). Porém, apresentando efeitos colaterais indesejados, como sonolência, os anti-histamínicos apenas secam temporariamente as secreções.4

A respeito das causas, os médicos asseguram que tais distúrbios do trato respiratório superior são causados por vírus ou falhas do sistema imunológico. Eles não ignoram, porém, que o estresse nervoso e as inconstâncias emocionais possuem papel de destaque no desencadeamento desses problemas. Os médicos notam que os ataques de espirros e irritação nasal muitas vezes acompanham os períodos de instabilidade emocional (KRISHNAN, p. 74).

A visão da ciência yogī

Segundo os estudos yogīs, como menciona Sanjeev Krishnan, sinusite e rinite possuem uma razão subjacente: o excesso do elemento mucoso no organismo. O Yoga também entende que as impressões subconscientes e o sistema imunológico estão profundamente ligados, o que dificulta a separação das causas psicológicas e alérgicas dessas doenças. Não raro, uma hipersensibilidade tem início em eventos traumáticos e associações infantis. Sendo assim, uma pessoa que desencadeia espirros diante de uma tensão ou quando exposta à poeira doméstica, por exemplo, manifesta, essencialmente, a mesma reação.5

A ciência yogī explica as reações de hipersensibilidade como a excitação de uma impressão mental previamente desenvolvida, que deixou uma memória profunda-definida e uma impressão na psique e na memória celular (sistema de vigilância).6

De qualquer forma, de acordo com Krishnan, os problemas de respiração podem ser deixados para trás com uma rotina saudável e disciplinada. Muitas vezes, ainda que o indivíduo tenha contato com alérgenos por meio da respiração ou da dieta, se os órgãos digestivos e as membranas nasais estiverem com boa saúde, esses elementos não podem afetá-lo.7

O tratamento do Yoga, portanto, baseia-se na reorganização do corpo e da mente do doente. Conforme aponta Krishnan, existem duas maneiras de alcançar a cura para sinusite e rinite. A primeira seria o equilíbrio entre os caminhos de energia do corpo (nāḍīs), e a segunda, a eliminação dos bloqueios mentais.8 Para isso, pode-se recorrer a ferramentas de alto valor, como: meditação, yoga-nidrā, sūrya-namaskāra, āsana, prāṇāyāma e jala-neti, além de dieta e jejum.

Uma experiência

Desde a infância, a autora deste artigo convive com doenças respiratórias. Moradora de região fria e úmida nas montanhas, sempre sofreu as consequências do inverno, passando por algumas pneumonias, inclusive, antes de completar um ano. Na adolescência, já em Juiz de Fora (MG), não experienciou outras pneumonias, mas sempre enfrentou a asma, a sinusite e a rinite. Aos 24 anos, descobriu a homeopatia e deixou de usar remédios alopáticos. A asma foi solucionada, mas os demais problemas persistiram, ainda que de forma mais branda.

As enfermidades se manifestam seja no inverno ou no verão. No segundo caso, tanto pela instabilidade climática quanto pelo uso de ar-condicionado no ambiente de trabalho e em outros locais frequentados. A rinite costuma incomodar principalmente antes de dormir, ao acordar, depois do banho e em ambientes fechados.

Há dois anos, a autora começou a praticar Yoga. Aos poucos, foi introduzindo algumas técnicas em sua rotina, a fim de, entre outras questões, amenizar a sinusite e a rinite. Após seis meses de prática, passou a realizar diariamente, logo após despertar, dois ou três ciclos de sūrya-namaskāra (saudação ao sol). À noite, por vezes, recorre ao candra-namaskāra (saudação à lua). Segundo Swami Satyananda Saraswati (1996), sūrya e candra-namaskāra estimulam e equilibram o sistema respiratório.9 Imediatamente após às séries, a autora percebe a desobstrução das narinas e o alívio da pressão na testa.

Ainda no primeiro ano de estudos, o professor Fernando Liguori passou a iniciar as aulas com ṣaṭ-karmāṇi e prāṇāyāma. O recurso foi fundamental para uma prática de āsanas mais concentrada e com adequada respiração. No início, Liguori aplicou apenas o kāpalabhāti. Depois, incluiu o bhastrikā, seguido de mahā-bandha. Tais técnicas oferecem a limpeza das regiões respiratórias, com eliminação de muco.10

Atualmente, a autora pratica quase todas as manhãs nāḍī-śodhana-prāṇāyāma, que, conforme Swami Satyananda (1996), pode remover bloqueios da respiração.11 Apesar de ainda enfrentar algumas dificuldades pelo fato de as narinas amanhecerem entupidas, considerável melhora vem sendo percebida. Durante o dia, há menos entupimentos e dores de cabeça.

Para facilitar a passagem do ar durante o prāṇāyāma, a autora realiza anteriormente sūrya-namaskāra e jala-neti com água e sal. Durante a limpeza, observa-se a expulsão de muco e uma ligeira ardência em seguida. De acordo com Swami Satyananda (1996), jala neti promove a limpeza das passagens nasais, permitindo que o ar flua sem obstruções, além de ajudar no tratamento de doenças respiratórias.12

Pelas manhãs e à noite, também são praticadas medição e āsanas (conforme as orientações do professor Fernando Liguori, seguindo Sanjeev Krishnan). Os momentos meditativos vêm alterando a rotina da autora, auxiliando-a a permanecer no presente e a diminuir a ansiedade. āsanas como paścimottānāsana, bhujaṃgāsana, halāsana, dhanurāsana, ardha-matsyendrāsana e parvatāsana são essenciais para a desobstrução e o alívio da pressão na testa. Em momentos de crise, evita-se śīrṣāsana e sarvangāsana.

Com relação à alimentação, foram seguidas algumas orientações de Sanjeev Krishnan.13 Além de eliminar o leite da dieta, reduziu-se o consumo de derivados. Ao que parece, para atingir resultados mais significativos nesse caso, seria ideal a abstinência de laticínios. A autora também evita sal e bebidas geladas e consome mamão quase todos os dias, além de comer pouco e de três em três horas.


Raphaela Ramos é jornalista cultural e atriz.
É aluna de Fernando Liguori.


Anotações

1. Equipe Editorial Boa Saúde. Rinite e sinusite:
http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=5047&ReturnCatID=1572. Acesso em dois de fevereiro de 2012.

2. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. p. 75.

3. Equipe Editorial Boa Saúde. Rinite e sinusite:
http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=5047&ReturnCatID=1572. Acesso em dois de fevereiro de 2012.

4. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. p. 75.

5. Idem.

6. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. P. 74.

7. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. P. 76.

8. Idem.

9. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p. 164.

10. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p. 407 e 411.

11. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p. 386.

12. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p. 491.

13. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. p. 77.


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