quinta-feira, 24 de julho de 2014



Fernando Liguori


O Tantra tem sido classificado em cinco categorias: 1. śaiva-tantra, no qual Śiva representa o Absoluto; 2. śākta-tantra no qual Śakti, sobre todas as formas, representa o Absoluto; 3. gāṇapatya-tantra, no qual Gaṇeśa representa o Absoluto; 4. sūrya-tantra, onde o sol representa a força primordial; 5. vaiṣṇava-tantra, onde Nārāyāna é a divindade principal. Essas são as cinco principais classificações do Tantra.

As duas principais correntes nessa classificação que ainda são muito ativas, vibrantes e dinâmicas na Índia são os tantras śaiva e śākta. No śaiva-tantra, onde Śiva é o guru e Śakti a discípula, há muitas escolas, das quais dez são proeminentes. No śākta-tantra, onde a Śakti é a Suprema Controladora do universo, há uma prática espiritual conhecida como o Culto das Mahāvidyās. A Śakti, Controladora do universo, é adorada em dez formas diferentes, começando com Kālī e seguida de outras formas como Tārā, culminando em Kamalā. A Śakti é tida como a Imperatriz de todo o cosmos visível e invisível, manifesto e não manifesto, Regente do destino de cada indivíduo e do cosmos, Doadora de tudo o que é auspicioso e benevolente, adorada finalmente como Ṣoḍaśī. Essa é a manifestação final da Śakti, a devī. O sādhanā do Śrī Yantra é considerado a prática mais poderosa do Tantra. Em resumo, a adoração da Śakti leva a transcendência do plano terreno, bruto e a união com a energia cósmica.

Na tradição tântrica há oitenta e quatro siddhas e sessenta e quatro yoginīs, que são os mestres da arte tântrica, a ciência tântrica.

O śākta-tantra somente se inicia em nosso sādhanā quando reconhecemos a mulher como Mestre Supremo, como o verdadeiro canal da energia cósmica. Esta é uma tradição muito antiga. Na Índia antiga, mais especificamente na Índia tântrica, as mulheres sempre foram consideradas em alta medida na posição mais elevada da sociedade. Posteriormente, com as migrações e convulsões políticas, o sistema matriarcal do Tantra caiu na clandestinidade e deu-se início ao sistema patriarcal tântrico.

Swāmi Śivananda era um saṃnyāsin da tradição de Śaṅkarācārya, no qual o Vedānta é o tema principal. Todavia, ele inspirou muitos discípulos reviverem a antiga ciência do Śrī Vidyā. Para que essa tradição pudesse ser revivida, foi necessário começar a iniciar mulheres na tradição saṃnyāsa. Sua discípula, Swāmi Vidyāmba Saraswatī foi a responsável pelo renascimento do Tantra de Ṣoḍaśī. As sacerdotisas ou swāminīs que pertencem a esse grupo são chamadas de yoginīs.

O Tantra é uma tradição muito pura. Existe o «tantra-tamásico», o «tantra-rajásico» e o «tantra-sattvíco». Todos buscam pelo tantra-tamásico, pois a mentalidade da grande maioria é tamásica. Todos querem controlar, ter poder, manipular outras pessoas, influenciar suas atitudes e pensamentos. Portanto, na maioria dos livros sobre Tantra disponíveis no mercado encontraremos apenas o aspecto tamásico do Tantra ou a magia a ele associada, muitas vezes considerada negra, mas há aqueles que a consideram branca. Isso não importa. O que define a magia é aquele que a pratica. Magia é ciência e se suas leis forem respeitadas, resultados ocorrem. De uma maneira ou de outra, quando a magia é associada ao Tantra, considera-se este aspecto tântrico como sendo tamásico.

No tantra-rajásico o foco está no indivíduo. O praticante tem que controlar os diferentes elementos e superar os instintos de sua natureza mais densa. Este aspecto do Tantra é difundido e conhecido, mas este não é o verdadeiro Tantra. O verdadeiro Tantra é o tantra-sattvíco no qual a entrega em fé ou o render-se ao Divino desempenha um papel fundamental. A prática das yoginīs é o tantra-sattvíco.


O tantra-sattvico é o da mais alta categoria e possui a força e o poder para nos liberar completamente do ciclo de nascimento e morte. Depois que proficiência foi adquirida na prática do tantra-sattvíco não há retorno, há apenas mokṣa. A tradição tântrica é única, preciosa e muito sistemática. É pura, simples e desenvolve a natureza da inocência. É necessário abandonar o ego completamente. É necessário abrir mão da individualidade completamente a fim de identificar-se com a Śakti. Por isso, este sādhanā é dos mais difíceis.

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